DOENÇAS GENÉTICAS
O que é a genética médica?
A genética médica é a ciência que estuda o DNA e as doenças decorrentes de suas alterações. O DNA é a molécula que contém um código de informação para a construção do nosso organismo. O DNA é organizado em genes que são porções do DNA que contêm as informações para fazer uma proteína. Cada gene, portanto, controla uma função diferente do nosso corpo. Quando o DNA é alterado, pode ocorrer um impacto na função da proteína correspondente e nosso corpo pode adoecer. Através do estudo do DNA, em muitos casos, é possível identificar a causa das doenças cardíacas, o que pode ajudar a direcionar o melhor tratamento ao paciente.
Algumas das doenças humanas são causadas por fatores genéticos que podem causar problemas cardiovasculares. As doenças genéticas podem ser causadas por variantes em um único gene, e são chamadas de doenças monogênicas. Também há as doenças poligênicas, causadas pela ação simultânea de diversos genes.
As doenças monogênicas (que são comumente chamadas de doenças genéticas) são transmitidas nas famílias de maneiras específicas. Para entender as regras de transmissão de doenças genéticas é preciso ter em mente que temos duas cópias de cada gene, uma herdada da mãe e outra herdada do pai.
Os genes estão localizados nos cromossomos que são como “livros” que contém o DNA. Os cromossomos podem ser divididos em autossômicos (numerados de 1-22) e sexuais (X e Y). A maioria dos indivíduos apresenta um par de cada cromossomo autossômico e um par de cromossomos sexuais, XX (mulheres) ou XY (homens). Desta forma, os principais padrões de herança observados nas doenças cardiovasculares de base genética são:
Autossômico dominante
50% de chance de que a doença seja transmitida aos descendentes. Homens e mulheres têm a mesma probabilidade de serem afetados e transmitirem a doença.
Autossômica recessiva
A doença se manifesta apenas se a variante for herdada em dose dupla, ou seja, de ambos os pais. A alteração genética estará, portanto, presente em homozigose ou heterozigose composta no indivíduo afetado. Há 25% de chance de que o casal tenha outros filhos com a mesma condição. Descendentes de um paciente com condição recessiva serão apenas portadores. O indivíduo que possui uma única cópia do gene alterada (heterozigoto) pode ser definido como um portador sem sintomas da doença. Casais consanguíneos (parentes) podem apresentar maior risco de filhos com doenças recessivas se comparados a casais não consanguíneos.
Ligado ao X
Não há transmissão de pai para filho. Pais afetados transmitem para 100% das filhas. Mulheres tem 50% de chance de transmitir para seus filhos ou suas filhas. Os sintomas variam de acordo com a doença em questão podendo se manifestar apenas em homens e mulheres serem assintomáticas ou se manifestarem em mulheres e serem letais nos homens.
Na prática há dois elementos que tornam a herança de uma doença mais complexa: são a penetrância incompleta e a expressividade variável.
Penetrância significa que não necessariamente todos os portadores do defeito genético apresentarão a doença em nível clínico.
A expressividade variável se deve ao fato de que o mesmo defeito genético pode se manifestar de forma diferente em indivíduos diferentes: por isso podemos ter, na mesma família, indivíduos com manifestações clínicas graves e indivíduos com doença leve.
Aconselhamento genético
O AG é um processo em que o profissional da saúde capacitado deverá coletar informações sobre o indivíduo, seu histórico de saúde e seus antecedentes familiares. Tal processo permite o raciocínio clínico e a partir disso a equipe médica deve informar ao paciente as possibilidades de investigação. Caso seja realizado teste genético, o processo de aconselhamento pré-teste é fundamental para alinhar expectativas, sanar dúvidas e explicar potenciais resultados que o teste pode informar, assim como indicar as limitações do teste. Após o resultado, deve ser feito o processo de AG pós teste. Neste momento é informado o resultado, se foi confirmado ou não um diagnóstico e quais as implicações deste resultado para a saúde do indivíduo testado e também para seus familiares.
Tratamentos
A identificação do diagnóstico molecular envolvido na doença pode levar a decisões importantes no manejo do paciente, fornecendo informações para estratificação de risco e direcionando a terapia gene-específica. Até mesmo pode indicar ou modificar algumas intervenções médicas importantes, como indicação de dispositivo cardiodesfibrilador implantável ou uma cirurgia cardíaca.
Familiares
Em doenças genéticas, é frequente que diversos familiares sejam afetados pela mesma condição. É importante alertar os parentes para que fiquem atentos aos sinais e sintomas da doença. Quando indicado pelo médico, pode ser necessário o rastreamento clínico (através de consulta, exame físico e exames complementares) e o rastreamento genético (através de teste genético) desses familiares.